segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Crônica Moacyr Scliar

 Imagem (via). 

 Olá, vim hoje mostrar um livro muito legal que peguei na biblioteca e li, digo "e li" pois é uma crônica e na verdade crônicas nunca me chamaram a atenção, porém este foi diferente, me encanto pela fala do autor, a maneira de retratar os fatos, me envolveram, escrito por Moacyr Scliar, escritor gaúcho nascido em Porto Alegre, em um texto coloquial bem humorado, uma crônica infanto-juvenil, contém 25 pequenas crônicas no livro colocarei uma aqui da qual gostei muito e espero que gostem também:

Carta a um jovem que foi assaltado.
  Foste assaltado. Bem, a primeira coisa a dizer é que isto não chega a ser um fato excepcional. Excepcional é ganhar um bom salário, acertar a loto: mas ser assaltado é uma experiência que faz parte do cotidiano de qualquer cidadão brasileiro. Os assaltantes são democráticos: não discriminam idade, nem sexo, nem cor, nem mesmo classe social - grande parte das vítimas é das vilas populares.
  É claro que na hora não pensaste nisso. Ficaste chocado com a fria brutalidade com que o delinquente te ordenou que lhe entregasse a bicicleta {podia ser o tênis, a mochila, qualquer coisa}.
  Entregaste e fizeste bem: outros pagaram com a vida a impaciência, a coragem ou até mesmo o medo - não poucos foram baleados pelas costas.
  Indignação foi o sentimento que te assaltou depois. Afinal, era o fruto do trabalho que o homem estava levando. Não fruto do teu trabalho - até poderia ser - mas o fruto do trabalho do teu pai, o que talvez te doeu mais.
  Ficaste imaginando o homem passando a bicicleta para o receptador, os dois satisfeitos com o bom negócio realizado. É possível que o assaltante tenha dito, nunca ganhei dinheiro tão fácil. E, pensando nisso, a amargura te invade o coração. Onde está o exército? Por que não prendem esta gente?
  Deixa-me dizer-te, antes de mais nada, que a tua indignação é absolutamente justa. Não há nada que justifique o crime, nem mesmo a pobreza.
  Há muito pobre que trabalha, que luta por salários maiores, que faz o que pode para melhorar sua vida e a vida de sua família - sem recorrer ao roubo ou assalto. Mas tudo que eles levam, os ladrões e assaltantes, são coisas materiais. E enquanto estiverem levando coisas materiais, o prejuízo, ainda que grande, será só material.
  Mas não deves deixar que te levem o mais importante, e o mais importante é a tua capacidade de pensar, de entender, de raciocinar. Sim, é preciso se proteger contra os criminosos, mas não é preciso viver sob a égide do medo.
  Deve-se botar trancas e alarmes nas portas, mas não em nossa mente.
  Deve-se repudiar o que fazem os bandidos, mas deve-se evitar o banditismo.
  Eles te roubaram, é muito ruim isto, mas que te roubem só aquilo que podes substituir. Que não te roubem o teu coração.

 Essa foi uma crônica do livro, um pouquinho para instigar o desejo de vocês de lerem este livro quando houver uma oportunidade, deixem nos comentários o que acharam.



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